VIDA DUPLA Carlos Batuli com as filhas, a médica Iordana (à esq.) e a advogada Carla: quatro filhos na faculdade
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Mirian tinha apenas 12 anos quando passou pelo maior constrangimento da sua vida.
Ela estava na sala de aula quando uma menina da sua turma perdeu uma caneta de ouro e, imediatamente, apontou a culpada.
"Foi a cigana!", acusou.
Mirian, a única aluna que teve a sua mochila revistada na turma, chorava num canto, enquanto os colegas assistiam à humilhação pública.
Nada foi encontrado.
No dia seguinte, a menina achou a caneta.
"Não vai me pedir desculpas?", questionou Mirian.
A resposta veio com arrogância:
"Não.
Porque cigano é ladrão mesmo".
Elas se atracaram na frente da diretora e os pais foram chamados na escola.
O cigano Alberto, pai de Mirian, acostumado a ser ofendido, ficou calado e de cabeça baixa, mesmo ciente de que a filha era a vítima.
Mirian teve de se defender sozinha para permanecer na escola.
Naquele momento, decidiu que seria advogada.
Mirian Stanescon, 60 anos, foi a primeira cigana a ter curso superior no País.
Ela se formou em direito na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, em 1973, e resolveu se dedicar à causa dos ciganos .
Foi procuradora de Nova Iguaçu e, como advogada, elaborou em março, junto ao governo federal, uma cartilha de direitos do seu povo, como o registro do nascimento, saúde e educação públicas, que deverá ser distribuída aos 900 mil ciganos em todo o País. "Estima-se que a Romênia seja o país com a maior comunidade cigana.
O Brasil é o segundo", afirma Perly Cipriano, subsecretário de Direitos Humanos da Presidência da República.
"Eles ainda são muito perseguidos e precisam da proteção do Estado."
Os primeiros ciganos chegaram ao Brasil em 1574, expulsos da Europa pela Igreja Católica, que os considerava "um povo diabólico".
No Brasil, se dividiram entre Calons - de origem portuguesa e espanhola - e Roms, do leste europeu, divididos em sete clãs - Kalderash, Moldowaia, Sibiaia, Roraranê, Lovaria, Mathiwia e Kalê, que se estabeleceram principalmente no Rio de Janeiro, Paraná, Pará, na Bahia e em São Paulo.
Durante a segunda guerra mundial, os ciganos europeus perseguidos por Hitler aumentaram o contingente da comunidade brasileira.
Para preservar as tradições, a maioria deles evitava convívio com os brasileiros.
Alguns trabalhavam como menestréis, ferreiros, artistas e damas de companhia, mas a maioria vivia em economia de subsistência. Isolados nas barracas, não acompanharam as inovações tecnológicas e rejeitavam o acesso à educação, temendo perder as tradições.
"A partir dos 13 anos, a escola era vista como um perigo por causa do convívio entre meninos e meninas. Até hoje, nem todas as famílias deixam a criança estudar após o ensino fundamental", afirma Patrícia Szameitat, 32 anos, cigana formada em enfermagem por influência da avó.
"Ao contrário da maioria das famílias ciganas, a minha sempre foi matriarcal e a minha avó priorizou a educação", conta. Aos 17 anos, ela abriu mão do casamento com um primo - que só tinha visto duas vezes - pela faculdade.
Patrícia permanece solteira e quer estudar física nuclear.
"Muitos ciganos questionam por que ainda não tenho marido e filhos, mas não ligo.
Não tenho pressa", diz.
Em geral, as mulheres são mais interessadas nos estudos do que os homens, que trocam a faculdade pelo comércio para sustentar a família.
Mas, atualmente, eles já sabem do valor de um diploma.
Carlos Alberto Batuli, 59 anos, conhecido como Carlinhos Cigano em Nova Iguaçu (RJ), onde fica a maior comunidade cigana no Brasil, criou a prole com este objetivo.
Ele decidiu que os seus quatro filhos não enfrentariam as dificuldades que os seus parentes tiveram para conseguir emprego.
"Meus primos tinham vergonha de dizer que eram ciganos.
Eu queria que os meus filhos tivessem orgulho da origem e fossem respeitados na sociedade", conta.
O esforço compensou. Iordana se formou em medicina, Carla em direito, Patrícia em educação física e Carlos Dreik cursa fisioterapia.
"Sou muito grata ao meu pai.
Não deixei de ser cigana porque fiz faculdade e meu marido, que também é cigano, entende os meus plantões e respeita a minha escolha", afirma a ginecologista Iordana Carla de Sá Batuli, 33 anos.
"Evolução não significa perder as tradições.
Afinal, não vivemos como há 200 anos", complementa a sua irmã, a advogada Carla Andréia Batuli, 32.
PRECURSORA Primeira cigana com curso superior,
Mirian ajudou a elaborar a cartilha
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Nem todas as mulheres ciganas tiveram o incentivo da família na luta por um curso superior.
Imar Lopes Garcia, 51, líder do clã Tsara-Romai na baixada santista, sonhava em estudar psicologia, mas foi proibida pelos pais e pelo marido, com quem se casou aos 16 anos.
"Eles diziam que eu tinha que cuidar da casa e dos filhos e que estudar era coisa dos gajes (não ciganos)." Mas o sonho permaneceu.
Além de ter se realizado ao ver três dos seus dez filhos concluírem a faculdade, Imar pretende trabalhar como assistente social na comunidade local.
"Quero ajudar as mulheres do meu povo a terem melhores condições de vida", diz.
Quem tem residência fixa pode estudar, mas os andarilhos ainda estão fora do sistema educacional.
"Nosso próximo desafio é incluir os ciganos nômades no processo de alfabetização", diz o presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana do Estado do Paraná, Cláudio Iavanovitch.
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Matéria de 2010, todos os créditos ao site abaixo:
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Quem vive em carroça de vidro não pode atirar pedras.
(conselho cigano)
Desde criança ,amo os ciganos.Sempre em minha cidade aparecia um circo e la estavam os ciganos,sempre com as roupas mais lindas...e os moços mais ainda..rsrs amava todos e era muito amiga deles (contrariando ) os pais que tinham medo que eu fosse embora com eles..respeito e adoro os ciganos...meu sonho é usar so roupas como a deles...beijos leninha
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