quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fundamentos do Budismo

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A base dos ensinamentos do Budismo é o sofrimento e a sua consequente extinção.
Siddharta Gautama teve a compreensão de que o sofrimento é decorrente do desejo em todas as suas formas.
Quando se deseja algo e não se obtêm a frustração gera o sofrimento, assim como quando se obtém o que se deseja há o desejo de manter o objeto do desejo.
Para Siddharta, o desejo deve ser purificado de forma a eliminar o sofrimento.
Siddharta codificou o mecanismo do sofrimento nas Quatro Verdades Nobres, e como purificar o desejo no Nobre Caminho Óctuplo.
Justamente por ter um aspecto prático, existem muitos debates se o Budismo deve ser considerado uma religião ou não.
O Budismo originalmente preocupa-se apenas com a extinção do sofrimento humano, e não busca nenhuma interpretação religiosa ou metafísica do universo, apesar das diversas escolas budistas terem assimilados rituais, cultos e divindades de outras religiões para expressar suas interpretações do budismo através dos tempos.
Por isto é comum que muitos praticantes de outras religiões também pratiquem doutrinas do budismo.
 O judaísmo por exemplo não considera o Budismo em si como uma forma de idolatria.
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As Quatro Verdades Nobres
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As Quatro Verdades Nobres são quatro afirmações que descrevem a natureza do sofrimento:
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A Natureza do Sofrimento (Dukkha)
"(..) esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.(..)"
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A Origem do Sofrimento (Samudaya)
"(..) esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir.(...)"
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A Cessação do Sofrimento (Nirodha)
"(..) esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele.(...)"
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O Caminho(Mārga)para a cessação do Sofrimento
"(..) esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta.(...)"
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O Nobre Caminho Óctuplo
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Sabedoria (Prajñā • Paññā)
Visão ou Entendimento correcto (samyag-dṛṣṭi • sammā-diṭṭhi): "(...)E o que é o entendimento correto? Compreensão do sofrimento, compreensão da origem do sofrimento, compreensão da cessação do sofrimento, compreensão do caminho da prática que conduz à cessação do sofrimento.
A isto se chama entendimento correto.(...)"
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Intenção ou Pensamento correcto (samyak-saṃkalpa • sammā-saṅkappa): "(...)E o que é pensamento correto? O pensamento de renúncia, o pensamento de não má vontade, o pensamento de não crueldade.
 A isto se chama pensamento correto.(...)"
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Conduta Ética (Śīla • Sīla)
Palavra ou Linguagem correcta (samyag-vāc • sammā-vācā): "(...)E o que é a linguagem correta? Abster-se da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira e da linguagem frívola.
A isto se chama linguagem correta.(...)"
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Atividade ou Ação correcta (samyak-karmānta • sammā-kammanta): "(...)E o que é ação correta? Abster-se de destruir a vida, abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta sexual imprópria.
A isto se chama de ação correta.(...)"
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Modo de vida correto (samyag-ājīva • sammā-ājīva): "(..)E o que é modo de vida correto? Aqui um nobre discípulo, tendo abandonado o modo de vida incorreto, obtém o seu sustento através do modo de vida correto.
A isto se chama modo de vida correto.(...)"
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Meditação(Samādhi)
Esforço correto (samyag-vyāyāma • sammā-vāyāma) : "(...)
E o que é esforço correto?
 Aqui, bhikkhus, um bhikkhu gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.
 Ele gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.
Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.
 Ele gera desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça.
A isto se denomina esforço correto.(...)"
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Atenção correcta (samyak-smṛti • sammā-sati):
 "(...)E o que é atenção plena correta?
  Aqui, bhikkhus, um bhikkhu permanece focado no corpo como um corpo - ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.
 Ele permanece focado nas sensações como sensações – ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.
 Ele permanece focado na mente como mente - ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.
 Ele permanece focado nos objetos mentais como objetos mentais - ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.
A isto se denomina atenção plena correta.(...)"
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Concentração correcta (samyak-samādhi • sammā-samādhi): "(...)
E o que é concentração correta?
 Aqui, bhikkhus, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entra e permanece no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento.
 Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração.
 Abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada pela atenção plena, plena consciência e equanimidade, acerca do qual os nobres declaram: ‘Ele permanece numa estada feliz, equânime e plenamente atento.’
 Com o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas.
A isto se denomina concentração correta.."
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Nirvana
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Nirvana (do sânscrito निर्वाण, Nirvāṇa no pali: निब्बान, Nibbāna) significa literalmente extinção, é o nome dado ao estado de libertação budista do sofrimento.
Para cada escola budista, existem interpretações diferenciadas do que seja o Nirvana e de como este é atingido.
Buda descreve o Nirvana como um estado de perfeita paz da mente, livre de qualquer estado aflitivo (kilesa).
O Cânon Pali também descreve outras perspectivas sobre o Nirvana: uma delas descreve que o Nirvana é o estado que permite ver a natureza vazia dos fenômenos.
Também é apresentado como uma radical reorganização da consciência e seu despertar .
O estudioso Herbert Guenther afirma que com o Nirvana "a personalidade ideal, o verdadeiro ser humano" torna-se realidade.
No Dhammapada, Buda diz que o Nirvana "é a maior felicidade".
Esta é uma felicidade duradoura, uma felicidade transcendente alcançada através da iluminação, não baseada na felicidade impermanente das coisas.
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Escrituras e referências budistas
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Buda não deixou nada escrito, tendo realizado seu ministério de forma oral.
De acordo com a tradição budista, ainda no próprio ano em que o Buda faleceu teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra onde discípulos do Buda recitaram os ensinamentos perante uma assembleia de monges que os transmitiram de forma oral aos seus discípulos.
Porém, a historicidade deste concílio é alvo de debate: para alguns este relato não passa de uma forma de legitimação posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I a.C. os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos.
Um dos primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde se constitui o denominado Cânone Pali.
O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda.
Não existem contudo no budismo um livro sagrado como o Tanakh, a Bíblia ou o Alcorão que seja igual para todos os crentes; para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.
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Ficheiro:Tipitaka1.jpg
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Edição do Cânone Pali
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O canône budista divide-se em três grupos de textos, denominado "Triplo Cesto de Flores" (tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):
Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados por Ananda no primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;
Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir e cuja transgressão é alvo de uma penitência.
Contém textos que mostram como surgiu determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na ordenação. Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;
Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos ensinamentos do Buda, incluindo listas de termos técnicos.
Quando se verificou a ascensão do budismo Mahayana esta tradição alegou que o Buda ensinou outras doutrinas que permaneceram ocultas até que o mundo estivesse pronto para recebê-las; desta forma a tradição Mahayana inclui outros textos que não se encontram no Theravada.
Para a maioria das escolas budistas, a historicidade dos textos é independente da obtenção do Nirvana.
 A maioria das escolas consideram que as histórias, mesmo as fábulas, tem como objetivo principal não o de relatar fatos históricos tal como ocorreram, e sim que devem servir como um meio de se obter consciência dos fundamentos do budismo.
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